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O teletrabalho e a crise da Covid-19: Reflexões a partir de pontos abordados pela pesquisadora Dra. Gardênia Abbad*

Publicado em : 06/04/2020

Autor : Lara Barros Martins

Lara Barros Martins**

Desde o final de 2019, o mundo do trabalho tem passado por abruptas mudanças em consequência da pandemia causada pelo novo coronavírus. Diante desse quadro, a SBPOT promoveu, no dia 3 de abril, uma live com a professora Gardênia Abbad (UnB) para tratar sobre o teletrabalho e a crise instalada frente às medidas adotadas para conter a transmissão da Covid-19.

Apesar de benefícios como aumento da produtividade e alívio de aspectos estressores, a adoção repentina e compulsória do trabalho remoto como medida de profilaxia em decorrência da pandemia tem introduzido questões preocupantes para os trabalhadores. Muitos nunca haviam tido experiência com a entrega de resultados a distância, nem estavam acostumados a usar determinadas tecnologias para tal fim.

Ainda, para garantir o distanciamento social preconizado como uma providência sanitária para evitar a disseminação do vírus, não são apenas os trabalhadores que estão em casa nesta situação atípica. É comum que eles estejam compartilhando o espaço com outros familiares, inclusive idosos que requerem mais cuidados e crianças dispensadas das escolas.

Se por um lado, no trabalho presencial há fontes de desconcentração, interrupções constantes e alta carga psíquica decorrente da convivência com colegas, trabalhar em casa exige equilibrar afazeres domésticos, manter a autodisciplina e evitar distrações potenciais para compatibilizar atividades profissionais e a vida familiar. Para a adequada implementação do teletrabalho e sua gestão, para além de questões ergonômicas e recursos materiais, é necessário planejamento e capacitação dos teletrabalhadores sobre como administrar o tempo, autogerenciar tarefas e conciliar trabalho-família.

“A premissa básica para o sucesso do teletrabalho é a relação de confiança”, comenta a professora Gardênia sobre o desafio de superar o modelo de gestão baseado no controle praticado pela maioria das empresas. Embora essa mudança não seja a curto prazo, essa situação imposta oferece uma oportunidade para repensar as relações de trabalho e as formas de supervisão, que devem ser adotadas a partir de evidências científicas.

Analogamente ao ensino a distância, que tem sido depreciado e carrega um estigma de possuir qualidade inferior à aprendizagem presencial, apesar de pesquisas constatarem o contrário, o teletrabalho também necessita planejamento, preparação anterior à sua implantação, infraestrutura e apoio institucional, para não cair no descrédito. A professora argumenta que “não podemos estigmatizar o teletrabalho como subtrabalho”, nem usá-lo como “uma arma para fazer o trabalho de qualquer jeito”.

Da mesma maneira que experiências de aprendizagem on-line bem planejadas são substancialmente diferentes do “ensino remoto de emergência”, com cursos oferecidos virtualmente em resposta a situações de crise como a que estamos vivenciando, o teletrabalho adotado de maneira emergencial não deve ser comparado ao trabalho convencional, pois nessas circunstâncias a transição não tem aproveitado as suas potencialidades.

Para Gardênia, o trabalho remoto não deve ser utilizado indevidamente, nem ter sua aplicabilidade subestimada. “O teletrabalho é uma alternativa aplicada a algumas finalidades e funções específicas, compatível principalmente a trabalhos que exigem alto grau de especialização e competências mais complexas, menor suporte gerencial e interdependência de tarefas”, explica.

Nesse momento em que a crise causada pelo Covid-19 impõe desafios e circunstâncias sem precedentes ao mundo do trabalho, vale mais cuidar do bem-estar dos trabalhadores forçados a se converter em teletrabalhadores, relativizando metas e propondo ações de capacitação, de modo a evitar a exaustão e o sofrimento. “As pesquisas vinham mostrando muitos benefícios do teletrabalho planejado. Sem investimento na área científica durante esse período, adoecerão tanto os gestores quanto os trabalhadores”, alerta Gardênia.

* Gardênia Abbad é doutora em Psicologia (Universidade de Brasília - UnB), Professora Associada dos programas de pós-graduação de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações (PSTO) e em Administração (PPGA) na UnB, e coordena o grupo de pesquisa E-Tr@balho (www.teletrabalho.org), responsável pela investigação e por publicações recentes sobre o tema do teletrabalho no setor público.

** Lara Barros Martins é doutora em Psicologia (Universidade de São Paulo e Universidad de Sevilla), Professora Doutora dos programas de pós-graduação em Psicologia (PPGP) e em Administração (PPGA) da IMED (Passo Fundo - RS), e coordenadora do grupo de pesquisa inPOT, que desenvolve investigações sobre teletrabalho.

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