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O Trabalho Fora do Trabalho

Publicado em : 16/05/2017

Autor : Lara Barros Martins*

As tecnologias móveis e a internet, acompanhadas de um conjunto de transformações socioculturais, são capazes de moldar as vivências humanas e favorecer novas configurações de trabalho, estudos e entretenimento.

Viabilizados pelos meios, o teletrabalho e suas modalidades (home-office, trabalho de campo, etc.) apresentam-se como alternativas aos trabalhadores num movimento contemporâneo que tende a valorizar a criatividade, a inovação e o dinamismo, além da autonomia na tomada de decisões sobre a rotina, flexibilidade para estabelecer a agenda, gestão do tempo e cuidado com assuntos pessoais, sociais e profissionais, promovendo a conciliação entre várias atividades.

As demandas atuais diferem daquelas que priorizavam o controle da produção, da jornada e do local de trabalho dos funcionários, a partir do reconhecimento do “dever cumprido” observado in loco e durante o “horário comercial”. A flexibilização inauguraria um novo modelo que prioriza resultados, o que inclui a qualidade e o cumprimento de prazos e metas, e permite a realização de certas tarefas em casa, dispensando a necessidade de frequentar o local de trabalho todos os dias, uma vez que importaria mais o que se faz e se entrega do que como ou onde o conteúdo é elaborado.

Há também a questão sobre as condições impostas pelos grandes centros urbanos e o deslocamento, o que pode resultar em funcionários atrasados, insatisfeitos, estressados e com rendimento abaixo do esperado. Analisar caso a caso aqueles elegíveis à prática remota pode fazer com que o trabalho seja levado às pessoas, impactando o ir e vir improdutivo e desgastante, e atender às expectativas e características de profissionais das novas gerações.

Segundo a Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades – SOBRATT, 68% das empresas brasileiras já adotam o formato remoto. Tentam assim se adaptar às demandas recentes por considerarem que a implantação da prática pode gerar ganhos em termos de produtividade (interrupções e reuniões em excesso que influenciam no tempo dedicado quando se está no local de trabalho); aumentar a satisfação, a motivação e o engajamento dos colaboradores; diminuir o absenteísmo (resolução de problemas pessoais) e a rotatividade (trabalhadores que não se adaptam à rigidez de formas de trabalho mais tradicionais); além de economias (despesas gerais e custos do espaço físico). Enquanto outras podem colocar entraves ou impor desafios para a disseminação de ambientes de trabalho flexíveis por acreditarem em métodos de gestão mais convencionais, no cumprimento de horário fixo e na supervisão presencial.

Para os trabalhadores, a modalidade proporcionaria a solução de certas situações como levar e buscar os filhos na escola ou evitar sair em um horário de maior trânsito. Mas há também outras repercussões, como riscos e aspectos legais envolvidos (recursos tecnológicos, custeio de despesas, pagamento de benefícios e previdência social, etc.) e a confusão comum entre tempo de trabalho e de não-trabalho, ampliando os períodos de disponibilidade por conta do acesso constante à caixa de entrada do e-mail e a grupos no celular, com notificações e solicitações fora de hora, indicando a necessidade de estabelecer limites. Além disso, questões como isolamento (relações sociais estabelecidas no trabalho e falta de contato interpessoal), condições de higiene e segurança no trabalho (aspectos ergonômicos e de segurança da informação) podem afetar negativamente o bem-estar, a qualidade e o desempenho do trabalhador.

Notoriamente, cresce a disseminação de ambientes de trabalho mais flexíveis, tendência decorrente das atuais condições individuais e contextuais expostas acima. Portanto, repensar as opções disponíveis de trabalho e ter a oportunidade de escolha sobre como trabalhar conquista cada vez mais adeptos, modificando os comportamentos e os valores relacionados ao trabalho.

Entusiastas das novas formas de trabalho e interessados em pesquisas sobre a temática devem atestar a sua aplicabilidade; levantar as características, preferências, necessidades e dificuldades de quem trabalha remotamente, observando a garantia de seus direitos; e fomentar discussões sobre essa realidade cada vez mais presente nas organizações e trabalho.

* Lara Barros Martins é doutora em Psicologia (USP e Universidad de Sevilla) e professora do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Faculdade Meridional IMED (Passo Fundo - RS).

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